Diário de bordo
07 de julho – véspera do Grande Dia ! Perdi a conta de quantas vezes verificamos os equipamentos, afinal, qualquer falha no equipamento de oxigênio ou no queimador seria fatal. Fizemos dezenas de " check lists ", tudo era repassado minuciosamente. Todo o equipamento era revisado juntamente com a roupa de montanhismo que eu usaria para agüentar os 40 graus negativos - faziam parte do equipamento e tinham um limite máximo de peso.Repassamos também os cálculos da relação do peso de combustível X consumo X altitude atingida.
Dia 08 as 5h45 – chegamos à cidade de Rio Claro, interior de São Paulo e minha equipe de aproximadamente 15 pessoas se dividiu entre a inflagem do balão, minha preparação com os equipamentos de oxigênio, montagem do equipamento e o resgate. Havia também um oficial da Associação Brasileira de Balonismo (ABB) designado para acompanhar todo o vôo, cumprindo as exigências para a homologação do recorde. A decolagem estava prevista para 6h30
6h32 – Decolo e inicio a subida, que fora estipulado anteriormente em meu planejamento, numa razão de 3,0 m/seg.
6h40 – Percebo que minha respiração está muito alterada, preciso me acalmar e respirar mais devagar, neste ritmo a reserva de oxigênio não será suficiente para realizar a descida.
6h50 – Tudo dentro do planejamento, minha estratégia foi fazer uma subida rápida para compensar a pequena quantidade de combustível, estou subindo a 3,0 m/s e a temperatura no topo do balão está se mantendo próxima de 110º C.
7h05 – Cruzo a marca de 6.000 m, quebrando meu antigo recorde. Faço mais um contato com o controle de tráfego de Pirassununga informado minha posição, direção e velocidade de vôo e informo que pretendo continuar a subida para atingir a marca de 9.000 m. A máscara de oxigênio dificulta a comunicação, mas percebo claramente a torcida dos controladores de vôo.
7h15 – Próximo dos 8.000 m tenho que reduzir a velocidade de subida já que a temperatura no topo do balão se aproxima dos 120º C, limite máximo para não danificar irremediavelmente o balão. Mais uma conferida nos manômetros do oxigênio e também do combustível, tudo Ok vamos em frente.
7h20 – Perco momentaneamente o contato via rádio com minha equipe de apoio... penso neste momento na apreensão de todos, mas acabo gostando da solidão neste momento tão único, sinto-me ofegante dentro da máscara de oxigênio. A paisagem é maravilhosa, uma linda manhã de inverno com céu azul e visibilidade total. O queimador responde muito bem na altitude em que me encontrava.
7h22 – Exatamente após 50 minutos de minha decolagem o barógrafo acusa o novo recorde de altitude, 9.040 metros! Informo pelo rádio o sucesso de nosso vôo e ouço o grito de todos. Faço algumas fotos e por alguns instantes consigo saborear este pequeno momento.
7h35 – 8.850 m, faço mais uma foto do barógrafo registrando outro momento muito importante, estava voando agora na mesma altitude do Monte Everest. Mesmo estando no interior do estado de São Paulo as condições do ambiente neste momento são exatamente iguais as encontradas por um alpinista que estivesse no topo da montanha mais alta do mundo.
7h40 – Inicio a descida deixando o balão esfriar, neste momento começo a sentir os efeitos da baixa temperatura. Durante a subida sempre estive protegido pela esteira de calor deixada pelo ar aquecido pelo balão, agora só encontro pela frente o ar frio próximo de 40º C negativos.
8h10 – Depois de 40 min descendo a uma velocidade de 5,0 m/seg pouso o meu balão próximo à equipe de apoio, finalmente agora é só comemorar!
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